Os mais ansiosos já devem ter logo respondido: “é claro, como vou ser feliz se não amo o que faço (dããã).”
Mas, não vamos cair na armadilha da resposta pronta, aquela que vem num piscar de olhos, sem consciência ou reflexão … essa resposta parte do nosso cérebro mais primitivo, subconsciente, o maior repositório de respostas impulsivas, e fonte dos maiores sofrimentos e dores dos seres humanos. (vale um artigo só sobre isso, mas não vou me desviar do foco, que é a pergunta que iniciou esta conversa).
Como qualquer questão humana, a resposta não é do tipo binária, sim ou não. É o famoso “depende” que costuma figurar nas Top 10 respostas da vida cotidiana.
Agora, depende do quê? Depende de múltiplos fatores, mas a espinha dorsal reside na escolha: “como eu escolho ver o meu trabalho”.
Dois construtores da Idade Média estavam realizando o seu ofício, quando foram questionados sobre o que estavam fazendo. O primeiro, carrancudo, respondeu apressado: “Não está vendo, estou cortando pedra”. O segundo parou, olhou para o horizonte, e com um leve sorriso respondeu orgulhoso: “Eu, estou construindo uma linda catedral.”
Quem você acha que era mais feliz? Quem você acha que amava cortar pedras?
Não tive a oportunidade de conversar com eles, mas posso imaginar que o segundo era mais feliz, mas provavelmente, não amava cortar pedra. Daí entra o poder de escolher “como eu escolho ver o meu trabalho?”
Posso escolher ver o meu trabalho como algo maçante, desgastante, operacional, repetitivo, ou posso escolher vê-lo como algo maior, com um sentido maior, mesmo se tratando de uma atividade pequena ou operacional.
E esse sentido ou a possibilidade de fazer a diferença é o que traz realização e felicidade, não a atividade em si.
Foi o que Amy Wrzesniewski (Yale) e suas colegas descobriram em sua pesquisa com um grupo de profissionais cujo trabalho era pouco valorizado (faxineiras de um hospital), e descobriram que algumas exerciam as suas funções por obrigação e pouca satisfação, apenas para receber o salário no final do mês, e algumas enxergavam significado no trabalho e entendiam suas atividades como parte do processo de cura das pessoas.
Uma das faxineiras entrevistadas relatou trocar de lugar os quadros dos quartos de pacientes em coma, para mostrar que se importava, outra acolhia as famílias que recebiam notícias trágicas. Isso era parte de suas responsabilidades ou atividades? Não. Elas estavam utilizando, sem saber, o que hoje, empresas renomadas como o Google, utilizam como técnica para investir em times mais produtivos, funcionais e satisfeitos. Essa técnica chama Job Crafting e será o tema do próximo artigo.